Atleta Olivanense em Entrevista ao BasketPT

" O Verão de 2011 começou com o sucesso da Selecção Nacional de Sub20 Femininos. O conjunto luso garantiu a subida à Divisão A do referido escalão e teve na base Michelle Brandão um dos grandes destaques individuais. A atleta do MR Group Olivais Coimbra viu os seus desempenhos serem reconhecidos com a eleição para o 5 Ideal do Europeu.

No entanto, não foi só neste Verão que Michelle deu nas vistas. Apesar de ainda só ter 20 anos de idade, esta jovem jogadora já compete na Liga Feminina há alguns anos, e já sabe o que é sagrar-se Campeã Nacional no escalão máximo do basquetebol feminino português, bem como vencer a Taça de Portugal e a Supertaça. Além disso, também tem participado nas campanhas europeias do Olivais e era uma das integrantes da equipa conimbricense que conseguiu o histórico apuramento para os Oitavos-de-final da EuroCup Women. Além disso, as suas qualidades aliadas ao seu trabalho e dedicação já fizeram dela Internacional pela principal Selecção Nacional.

Outros voos, ainda mais ambiciosos, poderão estar a surgir no caminho de Michelle Brandão. Mas enquanto a nova época não começa, conheça um pouco mais de uma das atletas em destaque no emergente basquetebol feminino português.

Pensas que o facto de teres sido escolhida para o 5 Ideal do Europeu poderá ser mais um ponto de mudança na tua carreira?
Sinceramente não sei. O facto de ter sido escolhida para o 5 ideal é uma valorização de todo o meu trabalho realizado ao longo destes anos. Tal pode abrir algumas portas para o futuro mas essas coisas não dependem só de prémios individuais, uma vez que têm subjacente outros factores que nao controlamos.

Em dois anos, és a terceira portuguesa a ser escolhida para o 5 Ideal de um Campeonato da Europa (Maria João e Inês Viana no ano passado). Em dois anos, Portugal esteve em três Meias-finais e este ano em Sub20 subiram à Divisão A. São precisas mais provas de que o basket feminino está a crescer em Portugal?
Definitivamente eu acho que não. Está à vista de todos esse progresso, e eu sinto-me previligiada por poder fazer parte disso. Acredito que no estrangeiro as outras selecções nos comecem a respeitar mais e que em Portugal o basquetebol feminino comece a ser cada vez mais valorizado. Temos que continuar a trabalhar bastante para que esse crescimento continue.

Das 12 jogadoras da Selecção de Sub20, 10 jogaram na Liga este ano, a Filipa Bernardeco jogou numa das equipas que subiram à Liga, e a Sara Oliveira nos EUA. Sentes que a experiência competitiva que ganham ao jogar nas competições de seniores ajuda a que estejam melhor preparadas para estes Campeonatos da Europa?
Sim, eu senti que foi uma mais valia para mim e acho que para as minha colegas também. Foi importante não apenas o facto de fazer parte de uma equipa da Liga mas sim poder contribuir para o jogo, que é um factor importante para o nosso desenvolvimento como jogadoras.
Também acho que a participação nas competições Europeias (no total éramos 6), é uma experiencia importante para o nosso crescimento . É por isso um grande desafio pois nestes jogos estamos perante das melhores equipas da europa com jogadoras experientes e com qualidade o que nos obriga a estar o nosso melhor nivel para conseguirmos competir.

Continuando a falar da Liga Feminina: consideras que esta é a competição ideal para continuares a evoluir nos próximos anos, ou a curto prazo gostarias de seguir para campeonatos no estrangeiro que sejam mais competitivos?
A Liga Feminia foi e é uma competição importante para o crescimento de uma jogadora portuguesa jovem. No entanto, temos por objectivo um dia jogar no estrangeiro. Eu tenho o mesmo sentimento. Se esta é a minha proxima etapa ainda não sei.

A Ticha Penicheiro é uma das grandes referências do desporto português e este ano tiveste a oportunidade de jogar contra ela. Como foi jogar contra uma das melhores bases do Mundo?
Jogar contra jogadoras da qualidade da Ticha é sempre um privileégio, não tivesse ela sido recentemente eleita uma das 15 melhores jogadoras de todos os tempos da WNBA. Dá-nos motivação para trabalharmos ainda mais para podermos concretizar os nosso objectivos.

Este ano jogaste nas competições europeias de clubes e de selecções (Sub20 e Seniores). Na tua opinião, em que aspectos do jogo sentiste maiores diferenças para o basket praticado na nossa Liga?
As grandes diferenças que se destacam entre a nossa Liga e as equipas estrangeiras são, sem dúvida, a diferença de estatura do plantel adversário e o ritmo de jogo que nos impõem ser bastante mais elevado.

Voltando um pouco atrás no tempo, que balanço fazes da tua passagem pelos Centros de Treino da FPB?
A minha passagem pelos Centro de Treino da FBP, começou no CNT Calvão, quando era Sub16. Pude partilhar os treinos com as melhores do país da minha geração, o que me possibilitou melhorar muito o meu jogo a todos os níveis. Para além disso, ao aceitar o desafio de ir para o CNT fez-me assumir mais responsabilidades, fazendo-me crescer bastante a nível pessoal. Portanto, tal revelou-se como sendo um momento importante no meu desenvolvimento e crescimento como pessoa e jogadora de basquete, ao mesmo tempo que foi um momento de viragem nos meus objectivos como jogadora.
Considero, pela minha experiência, que os centros de treino são um aspecto essencial, sempre aliado a um bom trabalho nos clubes, ao bom desenvolvimento de um jogador e do basquetebol em si, revelando-se fundamentais para o sucesso das selecções.

Foi mais difícil ir para o CNT Calvão quando ainda eras Sub16, ou sair da ED Limiana para o Olivais Coimbra aos 17 anos?
Essas foram duas situações um pouco diferentes. Quando era Sub16 tudo era novo. Nunca tinha vivido fora de casa, e ir para o CNT significaria partilhar 5 dias da semana com 11 pessoas totalmente desconhecidas (até então), ter hábitos diferentes, ir para uma nova escola e tudo isto longe do ambiente a que estava habituada. Confesso que no inicio a adaptação não foi muito fácil, mas com o passar do tempo fui-me identificando com toda a vida do CNT, à medida que fui conhecendo melhor as minhas colegas, com quem construi grandes as amizades e, por isso, toda essa vivência se veio a revelar muito positiva.
A minha saída da ED Limiana para o Olivais Coimbra, apesar de nesta altura já estar habituada a viver longe de casa, teve uma “pequena”, grande, diferença: o facto de poder ter de estar um mês sem ver a minha família ao fim-de-semana. Para além disso, no Olivais Coimbra iria estar numa equipa com jogadoras mais velhas e não tinha aquele “conforto” de ter colegas da minha idade, como acontecia nos Centros de Treino. Passei, também, por uma situação inicial de adaptação um pouco difícil, mas o facto de ser muito bem recebida pelas minhas colegas e directores que acompanham a equipa, ajudou a uma melhor integração. Também esta decisão que tomei e desafio se tem demonstranto muito interessante a todos os níveis.

Nos Sub20 está o Miguel Maria, nas Sub20 estavas tu. Em Sub16 foste Campeã Nacional com a ED Limiana. Acreditas que deve ser dada mais atenção aos jogadores das Associações consideradas mais pequenas, ou estes casos de sucesso são esporádicos?
Eu acho que se deve dar a mesma atenção a todas associações. É normal que nas associacões maiores apareçam mais jogadoras com qualidade,porque nessas zonas há mais praticantes, logo há maior probabilidade de isso acontecer. Portanto, não é que nas associações pequenas se trabalhe pior do que nas outras. Eu acredito, por isso, que a diferença seja mais a um nível quantititativo.

Já venceste a Liga Feminina, a Taça de Portugal, Supertaça, integraste a primeira equipa portuguesa a passar aos oitavos de final da Eurocup, ajudaste a subir a Selecção Sub20 à Divisão A, foste escolhida para o 5 Ideal, já tiveste as tuas primeiras internacionalizações pela principal Selecção. Quais os próximos objectivos a alcançar?
O meu desejo é que isto não pare por aqui. Quero continuar a contribuir com o melhor para a equipa em que estiver, por forma a conquistar mais prémios colectivos. Isto sem nunca esquecer, a importância do desenvolvimento de um bom trabalho ao nível do basquete, para que eu possa continuar a crescer como jogadora, algo que dou muito valor. Para além disso, como já disse anteriormente, tenho como objectivo jogar no estrangeiro, tentando sempre chegar o mais longe possível na competição em que me encontrar."

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